A abertura dos mercados de futuros neste domingo reforçou os temores de um novo "segunda-feira negra" em Wall Street e nas principais bolsas globais. A tensão, que já vinha sendo antecipada pela forte queda nas cotações do bitcoin e de outras criptomoedas ao longo do fim de semana, agora se espalha pelos mercados financeiros tradicionais.
Os contratos futuros do índice Dow Jones recuavam 1.405 pontos, uma queda de 3,7%, enquanto o S&P 500 cedia 4,3% e o Nasdaq 100 — mais sensível às empresas de tecnologia — desabava 5,4%.
Na Ásia, o índice Nikkei da Bolsa de Tóquio abriu com perdas de quase 7%, embora tenha reduzido parte da queda para cerca de 3,5% no decorrer da madrugada. O sentimento predominante nos mercados é o de aversão ao risco diante da escalada da guerra comercial e do aumento nas chances de uma recessão global.
Como indicativo do pessimismo, o petróleo tipo WTI (referência nos EUA) recuou para abaixo de US$ 60 o barril — o menor nível desde abril de 2021 — aprofundando as perdas de 6% registradas após os anúncios de tarifas feitos pelo ex-presidente Donald Trump na semana passada.
A Crise se Aprofunda
A queda nas bolsas é uma continuidade da sangria vista nas 48 horas após o anúncio das tarifas "recíprocas" dos Estados Unidos contra seus principais parceiros comerciais. O Dow Jones já havia registrado sua maior queda diária desde a pandemia, perdendo mais de 1.500 pontos em uma única sessão. O S&P 500 recuou 6% na sexta-feira, acumulando perdas de 10% em dois dias.
O Nasdaq, que concentra empresas de tecnologia, já caiu 22% desde o recorde registrado em dezembro de 2024, o que tecnicamente configura um mercado de baixa (“bear market”).
De acordo com o analista Charlie Bilello, da Creative Planning, este é o sexto pior início de ano para os mercados desde 1927, considerando as primeiras 64 sessões de cada ano.
Durante o fim de semana, membros do governo Trump tentaram acalmar os mercados. O próprio ex-presidente afirmou que "quando alguém está doente, precisa tomar remédio", sugerindo que as tarifas são necessárias. Em sua rede social, Truth Social, Trump disse que continuará firme com sua "revolução econômica".
O secretário do Tesouro, Scott Bessent, declarou no programa "Meet the Press", da NBC, que não há "nenhuma razão" para se esperar uma recessão. Segundo ele, mais de 50 países já procuraram os EUA para negociar. "Eles foram maus jogadores por muito tempo", afirmou.
Já o secretário de Comércio, Howard Lutnick, garantiu à CBS News que os "tarifas recíprocas" não serão adiadas. "Essas tarifas vão continuar por dias e semanas", afirmou.
Volatilidade em Alta
O índice VIX, que mede a volatilidade do mercado e é conhecido como o "termômetro do medo" de Wall Street, subiu 109% na semana passada — o terceiro maior aumento desde 1990, segundo Bilello.
"O mercado de alta acabou", declarou Mark Malek, diretor de investimentos da Siebert Financial. "Podemos ver algum alívio nos próximos dias, mas ele não será sustentável", disse à Reuters.
Nem mesmo o mercado de criptomoedas escapou do pessimismo. O bitcoin, que inicialmente parecia imune ao colapso, sofreu fortes quedas no fim de semana. A correlação entre os ativos digitais e os mercados tradicionais voltou a se evidenciar, à medida que crescem os temores de uma desaceleração econômica global.
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