O cardeal italiano Angelo Becciu, condenado por malversação de fundos e destituído de seus direitos cardenalícios em 2020, anunciou nesta terça-feira (29) que não participará do conclave que escolherá o próximo papa, previsto para começar em 7 de maio.
"Para o bem da Igreja, a que servi e continuarei servindo com fidelidade e amor, assim como para contribuir para a comunhão e serenidade do conclave, decidi obedecer, como sempre fiz, à vontade do papa Francisco e não entrar no conclave, apesar de continuar convencido da minha inocência", declarou Becciu em comunicado divulgado por seu advogado à imprensa.
A decisão ocorre após a congregação geral dos cardeais realizada na segunda-feira (28), quando foi oficializada a data do início do conclave. Embora tenha participado das reuniões preparatórias ao lado dos 252 cardeais convocados, Becciu, de 76 anos, já havia sido excluído do grupo de 134 eleitores com menos de 80 anos, por decisão direta do papa Francisco.
Durante as discussões preliminares, o secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, apresentou dois documentos assinados por Francisco — um datado de 2023 e outro de março de 2025 — que confirmam a exclusão de Becciu da votação papal. Mesmo assim, o cardeal havia sustentado até recentemente que o papa nunca teria expressado uma "vontade explícita" de bani-lo formalmente do processo e que seus direitos como cardeal ainda estariam válidos.
Matteo Bruni, porta-voz da Santa Sé, afirmou na segunda-feira que os cardeais não haviam adotado "nenhuma deliberação formal" sobre o caso. Já o cardeal italiano Fernando Filoni reconheceu que o escândalo gerou "sofrimento" entre os membros do colégio cardinalício.
Becciu foi condenado a cinco anos e meio de prisão e à inabilitação perpétua para ocupar cargos na Santa Sé, no primeiro julgamento dessa magnitude contra um cardeal no Tribunal Penal do Vaticano. O processo abordou uma série de operações financeiras irregulares, entre elas a polêmica compra de um prédio de luxo na Sloane Avenue, em Londres, com recursos do Óbolo de São Pedro — fundo destinado a obras de caridade do pontífice.
Também veio à tona uma doação de 125 mil euros a uma associação ligada à Cáritas de Ozieri, na Sardenha, presidida à época pelo irmão de Becciu. A transação levantou suspeitas de conflito de interesses e uso indevido de verbas.
Becciu foi considerado, entre 2011 e 2018, um dos nomes mais poderosos da Cúria Romana, quando ocupava o cargo de substituto para Assuntos Gerais na Secretaria de Estado. Em 2018, foi nomeado por Francisco como prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, posto que também perdeu após o início da investigação.